quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O Defunto

Quem és tu que dormes
Profundamente
Num leito sem opressão
E te destinas a um sagrado covil
Sem teus fracassos
Sobrando teus ossos

De fato todo homem
Se nunca perdeu a glória
Virá a ser derrotado
Pelo óbito marcado
A sua própria hora

Quem és tu que pressentes
A dor do fraco, do amado, do querido
E visível vai tornando-te convincente
De que tens poder
Em arrastar tantos quanto sofrem
O que tu sorris

De fato são muitos a espreita
Da tua ressurreição
Do que querias ter à mão
Apenas para levantar-te e abraçar-te,
Comover sem a ira
De que um dia fora retirado

Quem és tu que fizestes
Ciência em promover
Este espetáculo
Ao comprar a tua sepultura,
Ao financiar a comunidade póstuma
Para onde arrastarás
Ainda os restos viventes

De fato em tua lápide tão bem escrita,
Um mensagem,
Por muito não rara, mas bem tolhida
Cicatriza a tua sombra
levada à nova geração

Quem es tu que segues
A rota dos mortais
Que não te acanhas mais
Com a palidez
E expõe-te sem timidez
Uma última vez
Sempre imóvel

De fato és o sinistro ocaso,
Se a morte te levou
Fatalmente
Ou o doce bramido do mar
Se tiveres ido
Naturalmente.

De uma série mórbida há alguns anos atrás. Uma saia austral de 2000.

Um comentário:

Unknown disse...

Hum...de fato...nem sabemos que somos ao certo...naum sabemos o que queremos...muito menos aonde iremos parar...quem somos????
um dia alguém descreverá...